Os vídeos abaixo vão mostrar  aspectos atuais da Geodésia, mas antes, vamos começar por entender melhor a palavra que dá nome a esta Ciência, a Geodésia ou Geodesia. O dicionário Houaiss nos ensina que ela vem do grego geódaisía, de ge terra e daío, dividir. Medina do departamento de Letras da Universidade Federal de Pernambuco, em artigo sobre a etimologia deste termo no site Geodésia On Line, nos descreve o sentido etimológico:
“Pela sua etimologia, a Geodésia apresenta-se, nas suas origens gregas e egípcias, como uma espécie de planejamento sagrado da divisão e distribuição da terra ou das terras, que o Estado ou o poder da tribo estabelecia como uma lei forte, uma lei maior inilidível, cujos termos e decisões ninguém podia tocar ou mudar, que todos tinham de obedecer e respeitar - porque aquele planejamento se processava como num banquete ou rito sagrado em que os deuses realizavam a distribuição da terra como uma dádiva em benefício dos homens.
Era uma lei forte porque era sacramentada, pois naquela primitiva concepção dos povos, o poder dos deuses era considerado infinitamente superior do que o maior poder do homem ou dos homens. Assim, a divisão e a distribuição das terras fertilizadas todo ano pelas enchentes do Nilo - que eram extraordinariamente férteis -, podiam realizar-se no Egito antigo em paz, sem grandes conflitos todos os anos, porque era uma lei sagrada, intocável. A história nos informa que, naquelas épocas, frequentemente a distribuição da terra era realizada pelos sacerdotes, fato que confirma a interpretação etimológica acima apresentada.”

Em sua obra Geodesy, edição de 2012, Torge, para nos mostrar os vários aspectos desta ciência, inicia com a clássica e sucinta definição de Friedrich Robert Helmert (Alemanha - 1880), segundo a qual, Geodésia é a ciência da mensuração e mapeamento da superfície da Terra. Nesta sua exposição, confirma que a definição dada por Helmert, ainda é fundamental. Lembra que a superfície terrestre é modelada pela gravidade terrestre e que a maioria das observações geodésicas têm como referência o campo de gravidade. Portanto, aquela definição fundamental abrange a determinação do campo gravitacional externo da Terra.

Ao longo do século XX, o enfoque geodésico original foi expandido para incluir aplicações na exploração dos oceanos e do espaço. De fato, vemos hoje que, em colaboração com outras ciências, ampliaram-se suas aplicações ao mapeamento submarino, a delimitação e manutenção de limites territoriais marítimos e, mais recentemente, os estudos sobre a elevação do nível do mar. Vemos também a navegação e o mapeamento estendidos para outros corpos do sistema solar com os similares objetivos dos terrestres.

Há mais um aspecto que nos impõe considerar nesta definição, porque, com a evolução desta área do conhecimento, se verificou que existem variações na superfície terrestre e no campo gravitacional. Deve-se, então, acrescentar a esta definição, um caráter temporal pelas variações sofridas.

Há ainda mais um aspecto que se impõe acrescentar a sua definição; porque a evolução do conhecimento geodésico nos informa que existem variações a considerar no decorrer do tempo. A Terra não é mais vista como um corpo rígido, bem como o homem provoca mudanças em vários aspectos. Deve-se acrescentar então a variação temporal dos fenômenos mensurados e, assim, a atual Geodésia ganha uma quarta dimensão.

Com esta definição mais moderna, também podemos considerar que a Geodésia é parte das geociências e das ciências de engenharia, incluindo-se a Navegação e a Geomática (Agrimensura e Cartografia), como pontua Torge, Ela dialoga com várias ciências na medida em que lhes oferece informações para avanços e, na medida em que estas também evoluem, recebe delas mais estímulos e contribuições para seu avançar.

A Geodésia de hoje é fortemente presente na vida das pessoas, podemos citar dois exemplos: um deles é a capacidade dos smartphones realizarem o posicionamento e a navegação, viabilizando o uso de aplicativos dos mais diversos fins, como Wase e Uber. O outro, que pode ser familiar principalmente ao proprietário de imóvel, é o georreferenciamento de imóveis rurais, pois ele proporciona a localização acurada dos vértices de divisa dos imóveis. Com isso se está construindo para a construção de uma base cadastral das terras e melhorar a governança fundiária. O georreferenciamento, por identificar precisamente cada parcela de terra e a quem ela pertence, representa grande segurança na propriedade imóvel e um Registro de terras mais eficaz. Ele também é a base para a regularização fundiária, direito que permite a aquisição da propriedade para milhões de brasileiros, possuidores de terrenos rurais ou urbanos. Esta forma de aquisição da propriedade imóvel é uma das condições para promover a cidadania, a dignidade e do desenvolvimento econômico destas pessoas, pois o imóvel regularizado e registrado, além de significar um capital, cristaliza condições para se construir uma vida de paz, dignidade e responsabilidades (ambiental, por exemplo), diferentemente da posse, direito precário e limitado sobre o imóvel.

Estes dois vídeos, o primeiro produzido pela NASA (National Aeronautics and Space Administration) e segundo pela UNAVCO USIP (Student Intership Program), consórcio sem fins lucrativos governado por universidades, com participação de 2 universidades brasileiras, nos mostram em vídeo e de uma forma mais leve, uma perspectiva da Geodésia no decorrer do tempo e 9 aspectos desta ciência na atualidade.
 

 








Imagem:

Marco padrão português usado para demarcar terras conquistadas pela Coroa. Exemplar implantado no Alto Rio Negro e disposto no Palácio do Itamarati, Brasília - DF


Referências:

 Medina. A. O termo grego Geodéisa – um estudo etimológico. Geodésia On Line 3 1997, https://www.ufpe.br/documents/39451/1778670/Medina.pdf/ec0ec303-38c6-483a-bcfb-ea1597910d27

 Torge, W. Geodesy. 3rd completely rev. and extended ed. 2012.  De 2001ISBN 3-11-017072-8